Cristo
em vós
Viver e comunicar Jesus Cristo
Exercícios
Espirituais na vida quotidiana
Método Verdade, Caminho e Vida
Também
em: viverecomunicarcristo.blogspot.com
Introdução
Cristo
em vós é resultado de estudo e aprofundamento durante o Curso
do Carisma (2007-2008). Dediquei-o a dois grandes mestres:
- Ir Dolores Baldi, fsp (1910-1999), fundadora das Filhas de São Paulo no Brasil,
que ensinou às Paulinas, a beleza de viver o Segredo de Êxito com fé simples
e confiança total em Jesus Mestre
Verdade, Caminho e Vida;
- Pe. João Roatta, ssp
(1913 –1985), presença forte e segura para a implantação do carisma paulino no
Brasil. Partilho do seu “tormento”: como
ajudar as pessoas a “conformar-se’, a “transfigurar-se”, a
“revestir-se”, “renovar-se à imagem de Cristo”, e a “viver em Cristo” Mestre, Verdade, Caminho e Vida!
“Tudo é de Deus: tudo nos leva ao Magnificat”.
“O Senhor derramou com sabedoria igual ao amor, as muitas riquezas que
estão na Família Paulina. Tudo é de Deus: tudo nos leva ao Magnificat.”[1]
É com estas palavras do padre Alberione, que agradeço.
Agradeço à Província do
Brasil, que me ofereceu esta
possibilidade de participar e viver o Curso do Carisma.
Agradeço à Superiora
Geral, Irmã Maria Antonieta Bruscato, e ao seu Conselho pela oportunidade
concedida a mim de beber das fontes do carisma da Família Paulina.
Um obrigado especial a
Irmã Elisabetta Capello, fsp, porque ao corrigir o meu texto (em italiano) me
transmitiu e testemunhou muita alegria e entusiasmo com sabedoria que vem de
uma profunda experiência de vida paulina.
Ir. Patrícia Silva,
fsp
Motivação
Muitas pessoas querem
orientação para a reflexão e oração. Existe uma sede de Deus e a busca de um
caminho para encontrá-lo. E nós, podemos
indicar o que as pessoas procuram: Jesus Cristo. Esta constatação me fez sentir
a necessidade de aprofundar e fazer a releitura do método Verdade, Caminho e
Vida para “viver e comunicar ao mundo Jesus Cristo”.
Uma outra inquietação é
esta: neste mundo globalizado se vive a desintegração. As pessoas estão sem foco,
sem uma referência de vida. Buscam por toda parte respostas para suas
inquietações. Há muito tempo a pedagogia utiliza o método da totalidade, a “globalização”
ou “gestalt” em diversas áreas. Desde pequenos, é assim que aprendemos. Nas
escolas, os professores não ensinam às crianças: “Esta perna, mais aquela
perna, mais aquela tábua formam a mesa”. Dizem: “Esta é uma mesa”. Em seguida,
fazem a análise de cada parte.
“Este é o papai”. E a criança aprende,
sobretudo na convivência, que aquela pessoa que a abraça, que a ajuda, é seu
pai. Depois, descobre as características específicas daquela pessoa.
Isto faz pensar no método
paulino que propõe a integração, a totalidade. A Família Paulina aspira viver
“integralmente” o Evangelho de Jesus Cristo, Verdade, Caminho e Vida.[2]
Este método e esta
pedagogia são urgentes e atuais. Com quais
estratégias? Como Padre Alberione pensou o método e a pedagogia da relação mestre-discípulo?
Quais são as aspirações
mais profundas que motivaram a busca deste modo de “modelar-se sobre Deus,
vivendo em Cristo”?
E se Jesus é modelo para
todas as idades, condições, tempos, como estava convencido Alberione, como viver
e propor este “modelo” às pessoas de hoje?
Objetivo
O método tem como objetivo
favorecer a oração e levar à vivência prática da boa nova. E sobre a oração,
agradecemos com coração filial, o
bem-aventurado Tiago Alberione que dizia: “A
oração é a voz do pobre que implora... do Filho que se volta ao Pai. A oração
estabelece um divino equilíbrio entre o fraco e o potente. É necessária como o
respiro ao corpo, a água à planta, a comida à vida. A oração é a energia da
vida, é a alegria do coração. Há necessidade de rezar para todos os
anunciadores da Palavra, para todos os comunicadores.”
É por isto importante
aprofundar o método: para rezar e viver melhor!
Fontes
do aprofundamento
Dois textos são básicos
para esta reflexão: Donec Formetur Christus in vobis, do bem-aventurado
Alberione e Gesù Maestro, do cônego
Chiesa.
O Primeiro Mestre
acentuava que a Família Paulina tem uma
só espiritualidade: “Viver integralmente o Evangelho”, “viver o Evangelho como
o interpretou São Paulo”. E especificava que
viver o Evangelho significa: “viver em Cristo Jesus Verdade, Caminho e
Vida”.
Pe. Roatta recordava o
Padre Alberione acentuando o método:
“Não
é o nosso método, mas é simplesmente o método! Porque é Jesus Cristo que se
torna o tema quotidiano de nosso pensamento, do nosso modo de caminhar, do
nosso caminho de união com Deus”. [3]
Um caminho, claramente definido
por Padre Alberione é este: há uma linha reta entre “no princípio era o Verbo e
o Verbo estava em Deus”, a consumação dos tempos e a nossa eternidade em Deus
por Jesus Cristo. Esta linha (ou caminho) é Jesus Cristo Verdade, Caminho e
Vida.[4]
E acrescenta , em Abundantes Divitiae:
“Esta atitude requer profunda
persuasão; todavia a instrução, as convicções profundas, a recepção dos
sacramentos, a direção espiritual, os pensamentos dos novíssimos mantêm a
pessoa no caminho reto ou, quando desviada, reconduzem-na. É o método mais
cansativo e demorado, porém o mais útil”.[5]
Padre Alberione diz que é necessário reordenar a vida em linha reta com a
eternidade, para distanciar-se das
coisas criadas, e familiarizar-se com o céu: “Viemos do céu, caminhamos para o céu, tenhamos um caminho único e seguro”[6].
Padre Alberione diz que Jesus Cristo é modelo-caminho. Tendo a
pessoa perdido a estrada para o céu, o Pai mandou o Filho para indicá-la
para nós com fatos, mais do que com palavras. Sobre ele devemos nos
modelar. Diz São Paulo: “Aqueles que desde
sempre conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho”
(Rm 8,29). “Imitar um santo é bom: imitar Nosso Senhor Jesus Cristo é obrigação de
todos, ou melhor, necessidade nossa. Jesus é modelo para todas as idades,
condições, tempos, o Evangelho deve ser a primeira leitura, o primeiro
conhecimento para todos: portanto, nenhuma leitura espiritual tem maior
importância.”[7]
Raízes
do método caminho, Verdade e Vida
Alberione se sentiu “profundamente obrigado a preparar-se para
fazer alguma coisa pelo Senhor e aos
homens do novo século”.
Como ele fez isto? Não
ficou apenas no sentir. Encaminhou, sob a luz do Espírito Santo, muitas ações
concretas.
Um texto, conhecido por
poucas pessoas da Família Paulina, iluminou esta preparação: “Gesù Maestro”, livro escrito pelo cônego
Francisco Chiesa[8],
por solicitação do padre Alberione, e publicado em 1926.
Este texto, em confronto
com o método inaciano, amplamente recomendado por Padre Alberione, favorece a
releitura do método Verdade, Caminho e Vida e sua vivência, hoje, no
quotidiano.
No livro Gesù Maestro, a referência ao método
Verdade, Caminho e Vida, desenvolve a didática (“doceat”), a arte de motivar e
interessar, a terpetica (“delectet”) e a formação ou plástica pedagógica (
“moveat”).
É importante saber
interessar. É preciso que o educador ou formador, procure tornar sempre mais
viva e ativa esta didática.
Quanto ao objetivo, deve
ser claro e cercado de elementos que podem aumentar a atração e o interesse.
O papa Francisco, na missa
em ação de graças pela canonização de São José de Anchieta, o evangelizador do
Brasil, afirmou que “a Igreja não cresce por proselitismo, cresce por atração”,
pelo testemunho alegre do anúncio de Cristo ressuscitado.
“Esse
testemunho que nasce da alegria assumida, aceita e depois transformada em
anúncio, é uma alegria verdadeira. Sem este gozo, sem esta alegria não se pode
fundar uma Igreja, não se pode fundar uma comunidade cristã. É uma alegria
apostólica, que se irradia, que se expande”, assegurou o papa
durante a cerimônia realizada na igreja romana de Santo Inácio.
Atualidade
A atualidade desta
pedagogia encontra-se nas palavras de Bento XVI, por ocasião da abertura da V
Conferência do Episcopado Latino-americano, em Aparecida (SP), quando falou do
método da atração. O papa disse que a
Igreja não faz proselitismo, mas se desenvolve por “atração”: como Cristo
“atrai tudo a si” com a força do seu amor, culminado no sacrifício da
Cruz. Não foi este o sentimento da
Igreja, no coração de Alberione, quando teve maior compreensão do convite de
Jesus: “Vinde a mim todos” ?
Nos cursos do Carisma da
Família Paulina, até 2007, foram trabalhadas oito dissertações, com o mesmo tema ou
relacionados, mas com pontos de vista diversos.[9]
Foco
específico: fidelidade criativa
Este é um esforço para viver
a fidelidade criativa ao carisma
paulino.
A releitura do método
Verdade, Caminho e Vida, aqui desenvolvida, inspira-se no bem-aventurado
Alberione, nos aspectos carismático paulino, comunicacional e pedagógico. A partir desta releitura, nasce uma
proposta de Roteiro para os Exercícios Espirituais na Vida quotidiana, conforme
o método Verdade, Caminho e Vida.
«Quantas
vezes vocês se perguntam: para onde caminha, como caminha, para qual meta
caminha esta família humana?”- perguntava Alberione.
Creio que podemos ajudar na resposta,
oferecendo à humanidade, tantas vezes desorientada e sem um rumo certo, um
caminho seguro: Jesus Cristo, Mestre Verdade, Caminho e Vida. Aí se encontra a fidelidade criativa.
“Gesù Maestro”
Uma pessoa, na origem da
Família Paulina, o qual ainda que não o fosse juridicamente, disse diversas
vezes e, no fim de sua vida: “Estou contente de morrer paulino, como sempre
fui”, deu um imenso contributo à espiritualidade paulina: o venerável cônego
Francisco Chiesa. Colocou os fundamentos, as raízes desta grande árvore.
De toda a sua grande obra Gesù Maestro, aqui são considerados três
capítulos específicos - 14 a 16 - sobre a arte pedagógica que compreende a
didática, os estímulos e as motivações.
Cada capítulo termina com
um texto bíblico, uma oração e a invocação ou jaculatória: Ó Jesus Mestre,
Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de nós.
O capítulo 14 trata dos dotes
de Jesus Mestre. Além dos dotes intelectuais e morais, são considerados
necessários a qualquer mestre, os dotes pedagógicos, que pertencem ao modo ou
método de ensino.
Santo Agostinho, falando
sobre o mestre de religião, diz que são necessárias três coisas: ut doceat, delectet, moveat. São precisamente os três dotes pedagógicos de
cada mestre:
- ut doceat, ou seja, a didática;
- ut delectet, a terpetica, ou seja, a arte de agradar e
interessar;
- ut moveat, a suprema arte de plasmar o caracter que se pode chamar
por isto plástica pedagógica.
1. Didática (ut doceat)
O autor considera a
didática do Mestre Divino, e a sua
importância observando como Jesus a praticou nas comparações e nas parábolas
evangélicas.
A iluminação da mente não
é o todo da educação, porém é parte importante. Como Deus Criador, primeiro
criou a luz: fiat lux, assim na alma
do discípulo, antes de tudo é necessário se fazer luz. E isto, por meio do ensinamento da verdade.
Uma comparação
interessante: inteligência e verdade são como o esposo e a esposa. Procuram um
ao outro continuamente, porque pelo Criador foram destinados a serem unidos em
matrimônio eterno. Mas, antes que este matrimônio se realize, antecede um
romance de duras e difíceis peripécias. Quantas fadigas antes que a pessoa
possa unir sua inteligência à ciência legal e se torne doutor em leis! Também à
ciência dos números, e ser proclamado professor de matemática!
1.1 O objetivo da didática
é diminuir as dificuldades desta união e acelerar o tempo.
Certas mentes fazem muito
esforço para entender algumas verdades que são por si mesmas duras e difíceis.
Às vezes, falta o tempo, a calma, o
querer. Não importa. Um mestre que tenha em grau eminente a arte didática, fará
milagres, por assim dizer, e conseguirá resultados inesperados.
Por isto, nas escolas de
formação ao magistério se dá suma importância à didática, publicam-se e se
fazem estudar muitos textos. São estudados a fundo os vários métodos de ensino
propostos pelos grande mestres, e se aprende a aplicá-los ao ensino da língua
falada e escrita, da leitura, da redação, da composição, da gramática; aqui se
conhecem os métodos mais eficazes para todas as disciplinas. Estes estudos
produziram e produzem continuamente frutos copiosíssimos, por toda parte.
Também no estudo e vivência da fé.
Já no início do século XX,
realizaram-se verdadeiras e importantes melhoras de método. Com o objetivo de
fazer o catecismo se deu maior importância à formação dos educadores,
inspirados num método intuitivo, cíclico, educativo, método que começa a dar
frutos melhores.
Para o cônego Chiesa tudo
isto é uma distante imitação ou um esforço de aproximação ao método praticado
pelo Divino Pedagogo da humanidade, o qual tendo criado a pessoa e sendo a
Sabedoria encarnada, só podia apresentar no seu método de ensino um modelo
infinitamente sábio e insuperável.
1.2 Didática do
Divino Mestre
Duas principais dificuldades se apresentavam a Jesus
como mestre: a sublimidade da doutrina a ensinar, e a limitação das pessoas a
serem ensinadas.
O cônego Chiesa define o
testemunho de vida como condição indispensável na educação e apresenta uma
curiosa explicação ou aprofundamento.
A educação é mais do que
uma simples instrução. É transmissão de vida. Vida é a mais profunda realidade,
e não consiste só em palavras.
Se nós escrevemos sobre um pedaço de papel: açúcar bem
doce, e jogamos o papel escrito no copo com água, por mais que o mexamos, a
água não se tornará doce.
Necessitamos do açúcar
real para adoçar. Assim são as simples palavras na educação. Para esta é
necessária uma vida real, sincera e
concreta. Aprendemos a piedade de uma pessoa realmente religiosa; o
desprendimento do mundo, de uma pessoa realmente desapegada do mundo; a
humildade, a caridade, a mansidão, da pessoa que realmente possui estas
virtudes, e dá testemunho através de sua conduta.
Em relação ao testemunho, Chiesa recorda que muitas
palavras não teriam convencido as pessoas mais eficazmente para a estima e o amor
à pobreza que o nascimento de Jesus no presépio de Belém. Como Deus, podia
escolher a mãe, o lugar e as circunstâncias do nascimento. Não escolhe por mãe uma rainha, nem como
lugar um reino. Elege uma pobre jovem de Nazaré, noiva de um homem igualmente
desconhecido e pobre. Realiza a longa viagem de Nazaré a Belém onde nasce rejeitado por todos.
Além do testemunho,
considere-se o ensino e a pedagogia necessária. Era impossível que aquelas
sublimes verdades pudessem penetrar a mente, sem uma sábia adaptação. Deus
criador não havia posto a verdade na materialidade do mundo sensível, para
adaptá-la à natureza da pessoa humana? E o próprio Verbo Divino, não havia
tomado a forma humana para adaptar-se às pessoas?
1.2.1
Forma e linguagens adaptadas
Sobre a forma, o cônego
Chiesa diz que, quase continuando e estendendo a encarnação, Jesus veste as
sublimes e sobrenaturais verdades do seu magistério com uma forma adaptada à
inteligência humana. O método praticado pelo Divino Pedagogo da humanidade, o
qual criou o homem e é a Sabedoria encarnada, são as comparações, as metáforas,
as imagens sensíveis[10].
Para facilitar o
ensinamento, buscam-se livros ilustrados. Porém, qual livro é mais
esplendidamente ilustrado que o Evangelho? Quase que do princípio ao fim, as
palavras poderiam ser substituídas por ilustrações. Quando não se narram fatos,
se propõem comparações, parábolas, tanto que até as pessoas mais simples podem
compreender a verdade ensinada com toda facilidade.
Para adaptar o Reino dos
céus à capacidade de compreensão dos
ouvintes, qual forma utilizou o Mestre Divino? Ele o comparou a um homem que vai semear a semente no campo; semeou a boa semente no
campo, no qual o inimigo semeia a sizânia; à eira na qual está a boa
semente e a palha; ao celeiro no qual
armazena o trigo colhido; à vinha à qual são chamados em diversos horários
vários operários; o tesouro escondido no campo; à pedra preciosa; ao banquete nupcial ao qual muitos são
convidados e poucos participam; à menor semente de mostarda que cresce e se
transforma em grande árvore na qual os passarinhos encontram abrigo; à rede
jogada ao mar que traz peixes bons e maus; à moeda perdida, ao fermento
colocado pela mulher na farinha, que
logo faz fermentar toda a massa!
1.2.2
Comparações: imagens
Como falar de certos
preceitos da antiga lei que não se adaptam à nova? Jesus Mestre coloca sob os
olhos a imagem do vinho novo que não se pode colocar em velhos odres, e de
roupa velha sobre a qual não se costura um pedaço de tecido novo.
Como falar da necessidade
de perseverança? Recorre ao arado, que tão bem significa o trabalho a fazer em
nossa alma; e diz que quem põe a mão no arado e se volta para trás não é digno
do Reino dos céus.
Para a prudência utiliza a
imagem da serpente e para simbolizar a
simplicidade, a imagem da pomba. Ele
diz: “Sede prudentes como as serpentes e
simples como as pombas“.
Quanta ternura na bela comparação da galinha e
dos pintinhos, para significar a carinhosa solicitude do Salvador para atrair a
si e proteger os seus fiéis! Ah! Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e
apedreja os que foram enviados a você! Quantas vezes eu quis reunir seus
filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não
quis!
A não correspondência à graça de Deus é representada na
figueira infrutuosa: « Então Jesus contou esta parábola: Certo homem tinha uma
figueira plantada no meio da vinha. Foi até ela procurar figos, e não
encontrou. Então disse ao agricultor: Olhe! Hoje faz três anos que venho buscar
figos nesta figueira, e não encontro nada! Corte-a. Ela só fica aí esgotando a
terra.
Os homens encontrarão
dificuldade para entender como o Filho deva passar pela ignomínia e a morte
para entrar na glória? Ele tornará fácil compreender este mistério com a comparação
ao grão: Se o grão de trigo, caído na
terra, não morre, ficará infecundo; se ao invés, morre, produz muito fruto.
Para despertar a confiança
na Divina Providência do Pai celeste fala das aves do céu e dos lírios do campo
aos quais ele provê abundantemente do necessário; fala do pequeno rebanho, para
indicar como são poucas as pessoas que escutam a sua palavra; chama a morte,
que vem quando menos esperamos, ladrão noturno; diz relâmpago veloz que aparece
no oriente e rápido chega ao ocidente, a vida do Filho do homem; esconjura os
inimigos dos seus fiéis chamando-os lobos
vorazes.
Para significar os efeitos
da fé, Ele proclama que é capaz de transportar montanhas.
1.2.3
Parábolas
As comparações consistem
em expressões que ilustram uma ideia. As
parábolas, ao invés, são histórias que contêm uma verdade mais complexa[11].
O ensinamento de Jesus passa pelas parábolas. Sem parábolas, não falava.
As melhores se exprimiriam num filme
cinematográfico.
Todas as verdades mais
altas, mais duras para entender, e difíceis de praticar passam pelas parábolas
e tornam alimento adaptado também para as mentes mais rudes. Quem não se
recorda da parábola do amigo conciliador, que se levanta à meia noite para dar
os pães que lhe pede o amigo? A parábola do bom
Samaritano que encontrou aquele
pobre viajante meio morto no caminho de Jericó, cuida das feridas e o carrega
sobre o seu jumento, e o confia a quem o possa curar? E aqueles dois devedores?
Um devia uma soma enorme, e o patrão perdoa-lhe a dívida; encontra um seu
empregado que lhe deve uma pequeníssima soma, toma-o pelo pescoço e lhe diz:
paga-me. O patrão vem a saber do fato, suspende o cancelamento da dívida e o
faz prisioneiro até pagar tudo que deve.
Que ensinamento grande na
parábola do caseiro infiel acusado pelo
patrão de dissipar os seus bens, na parábola do juiz iníquo, do mercador de pérolas, do Pastor,
das ovelhas e do ladrão, da ovelhinha perdida, do rei que quer fazer guerra,
do rico Epulão, do semeador, dos servos
que esperam o patrão, dos talentos, das
virgens estultas e prudentes, dos vinhateiros!
Com este método de agir
Jesus estabelece as regras mais justas e mais adaptadas para o ensinamento de
sua doutrina.
1.3 Linguagem: comunicação
dialógica
A técnica do diálogo usada
por Jesus, usada em cada momento e lugar, a forma frequentemente dialógica,
tudo tem o seu motivo. Basta recordar o
encontro com a Samaritana, o diálogo com os doutores da lei, com os fariseus,
com Nicodemos, com os apóstolos, a multidão. Quanta fineza em certas palavras e maneira de agir! “Que
queres que eu te faça?” (Mt 20,32), dizia respeitando a liberdade das pessoas.
1.4 Método:
objetivo, intuitivo, ocasional
O método do Mestre divino
é verdadeiramente objetivo, intuitivo, ocasional, vivo, interessante, e
manifesta tudo que a pedagogia moderna deseja.[12]
Para considerar o
princípio da universalidade da caridade,
representa um viajante que vai de Jerusalém a Jericó e cai nas mãos dos
ladrãos. É despojado, o agridem e o deixam semimorto. Passa um sacerdote, o
olha e passa adiante; passa também um levita; mas, depois vem um Samaritano,
que se inclina sobre ele, lava-lhe as feridas, colocando óleo e vinho, o
enfaixa, coloca-o sobre o seu jumento e o conduz à hospedaria; confia o
homem ao hospedeiro e lhe diz: tenha
cuidado dele; quando retornar te darei o restante que gastarás.
Quando vemos tudo isto, nós não estamos mais
no abstrato, mas descemos ao concreto e
ao concreto vivo. Parece-nos ver aquela cena. Tudo isto para tornar concreto, vivo,
interessante, tocante o fato e, portanto, para ajudar quem escuta a compreender
como a caridade se deve exercitar para com todos, porque todos são nosso
próximo; para questionar o sacerdote e o
levita, que devendo dar bom exemplo, nada fizeram; e para louvar a atitude do
Samaritano que era para os judeus pessoa discriminada; e, no entanto, soube
superar com o seu gesto, o levita e o sacerdote.
Chiesa termina
com uma bela ilustração: a parábola do filho pródigo para demonstrar que só Jesus, Deus-homem,
podia falar de tal modo, ou seja, exprimir de tal modo a misericórdia de
Deus.
2.
Terpética pedagógica ou arte de interessar, agradar (ut delectet)
O cônego Chiesa fala dos dons pedagógicos
necessários ao mestre: a arte de atrair e interessar os alunos: ut delectet, como diz Santo Agostinho.
No mestre, esta arte é de
suma importância, seja na instrução da mente, seja, como é dever, na educação
da vontade. Em um caso e noutro, é sempre algo de suma importância saber
interessar.
Quando se trata de
educação, a necessidade é evidente. Então é necessário mover a vontade à
virtude que é por si mesma dura e difícil. É necessário saber motivar a estima
e admiração para com ela. Entre conhecer a verdade e praticá-la existe um abismo. A arte lança a ponte sobre
este abismo para que a vontade possa facilmente superá-lo. É por isto, segundo
o cônego Chiesa, os livros eficazmente educativos não são aqueles que contêm
normas, mas aqueles que são escritos com arte.
2.1 Saber interessar: motivações
Ainda que se trate apenas
de pura instrução, é necessário saber motivar e interessar a vontade. Da vontade depende tudo: a frequência, a
aplicação diligente, a atenção, a reflexão, a iniciativa, a constância no
vencer os obstáculos. Um aluno de boa vontade é certeza de bom resultado. Por
isto, nos livros de pedagogia se fala tanto dos interesses do aluno nas várias
idades; e, especialmente nas escolas modernas, se adotarão muitos meios para tornar a escola simpática e
agradável. Busca-se interessar e agradar, para poder mais facilmente educar. É
a terpética (terpo = prazer) a arte de agradar e interessar.
Uma arte assim, natural e
necessária, não poderia ser colocada a parte pelo Mestre Divino. Ele que, mais
do que todos os pedagogos, conhece a fundo a natureza humana, usou esta arte de
maneira divina, insuperável. E isto na
maneira de ensinar, na substância da doutrina, e no modo de confirmá-la.
2.2 Método de
interessar de Jesus Mestre
Jesus era um mestre
diferente dos outros.
Era diferente na pregação,
nas atitudes, nos recursos que utilizava, dentro da realidade, com linguagem
simples, não só no Templo ou nas sinagogas, mas em cada circunstância.
2.2.1 Pregação
Na pregação, Jesus não
fazia como os outros, os quais liam uma citação do texto sagrado e depois se
perdiam em comentários complicados, difíceis, ou faziam observações banais e
cansativas. Ao invés se, como em Nazaré, Jesus comentava o texto sagrado, dizia
sobre ele coisas inauditas, tanto que se fazia um profundo silêncio e os olhos
de todos se fixavam imóveis nele. Mas, os seus discursos eram livres. Ele
citava o texto da lei, mas dizia também coisas suas e isto com autoridade, de
forma diferente dos doutores. Um exemplo é a bela pregação ao longo da estrada
de Emaús!
2.2.2
Atitudes
Aproximavam as pessoas
daquele mestre jovem, santo, irrepreensível, doce, amável, manso, em pé sobre
aquela barca, ou sentado sobre uma rocha, falando com voz amável e sonora do
Reino de Deus. Os pobres, os sofredores, os pequenos, as crianças, os pecadores,
os estrangeiros, os pagãos, todos se sentiam bem próximos de Jesus.
2.2.3
Recursos para se comunicar
Os recursos para Jesus é
tudo que faz parte da vida: a barca, a casa, as ovelhinhas, os cães, a videira,
o poço, uma moeda, as flores, o fermento, um grãozinho de mostarda, o pão,
espinhos, pedra, estrada, cizânia, tesouro, pedras preciosas, peixes, crianças, lobos, figos, uva, e tantos
outros. Chega a se comparar a uma porta, ao pastor, ao pão, à luz. Com tanta
abundância de ilustrações, tornava interessante seu ensinamento! Toda a
natureza era chamada a juntar as suas vozes à sua palavra.
2.2.4
Da realidade, inculturação
Jesus pregava do lago? Então criava as imagens
do pescador, das redes e da pesca! Vinde, eu vos farei pescadores de homens!
Estava, ao invés em meio à
campina verdejante de árvores? O Reino dos céus se tornava semelhante ao campo
no qual é semeado o grão e a cizânia, ou à figueira que um homem havia
plantado, ou à vinha circundada de cerca e, na qual é edificada uma torre.
Estava ao lado do poço?
Falava de água viva. Estava diante de uma multidão de pobres e sofredores?
Falava das bem-aventuranças.
2.2.5 Onde pregava Jesus?
Jesus não pregava só no
templo de Jerusalém, como os mais famosos doutores da lei. Não só nas sinagogas,
como faziam os doutores locais; Jesus pregava por toda parte, nas praças, nas
casas, nos campos, no declive das verdejantes colinas, nos áridos desertos e na
praia do mar. Ele realmente nos ensina a
ser uma “igreja em saída”.
Grande novidade era ver o
jovem Mestre, subir numa barca, avançar para dentro do lago e de lá, enquanto
os apóstolos mantinham presa a barca, pregar ao povo, sentado sobre as pedras e
sobre praia, em semicírculo, em número de milhares!
Ele pregava nas casas; e então, eis a figura da mulher,
que põe o fermento em três medidas de farinha; que perde a moeda e varre a casa
para encontrá-la; eis a imagem da lâmpada que não deve ser escondida sob o
alqueire, mas brilhar diante de todos, a imagem da eira com o grão e a palha,
do celeiro, e outras semelhantes.
2.2.6 Linguagem viva e quente
Que diferença entre a
linguagem de Jesus e a linguagem morta e fria dos doutores das sinagogas! E
então se compreende porque as massas andavam atrás dele, reuniam-se em torno
dele para ouvir suas palavras e o seguiam de cidade em cidade!
Que prazer para as
pessoas, em grande parte agricultores, pescadores e pastores, ouvir os
discursos do rabi sobre a ovelha perdida, e o pastor que defende a ovelha do
lobo, o arado que revolve a terra, e colhe trinta, sessenta, cem por um!
Mais que o método, maior força de atração tinham as verdades
ensinadas por Jesus. Jamais o povo, educado no temor da lei mosaica, tinha ouvido pregação, com timbre tão
expressivo e comovente, cheia do amor, da misericórdia, e da bondade de Deus
que é e quer ser chamado Pai (Abbá).
Quando foi dito ao povo
que todos são irmãos e como tal devem se amar? Eles, que haviam ouvido na lei:
amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo? Eles, que eram proibidos de
contrair matrimônio fora da sua tribo e que consideravam os estrangeiros seus
inimigos! De outro lado, aquele complexo de figuras e imagens sobre o Reino dos
céus se misturavam e tomavam vigor no fundo de seu coração.
Eles tinham ouvido falar
de um reino. Todos os profetas o haviam indicado. Os rabinos haviam obscurecido
estas profecias com interpretações materiais. Entretanto, a ideia de um futuro
glorioso ocupava o centro dos seus corações. Jesus se apresentava a eles como mensageiro
exatamente deste Reino. E falava continuamente, com liberdade. Ia diretamente à
alma deles. Ao som da palavra divina de Jesus o nebuloso se desfazia, aqueles pontos de interrogação
desapareciam. Sentiam que Ele ia ao centro das questões e respondia ao íntimo do
seu coração. Contudo havia mais. As palavras do Mestre divino não se referiam
só ao passado ou ao presente, mas lançavam a sua luz no futuro com a mesma
transparência e segurança.
2.2.7
A confirmação da palavra: os milagres
Uma extraordinária e
insuperável virtude de atrair os ouvintes, um meio que nenhum mestre pode ter à
sua disposição, mas que pertence somente a Deus: o milagre. Os milagres eram,
sem dúvida, orientados principalmente para confirmar a verdade das coisas pregadas por Jesus, mas nada
impede que nós os consideremos do ponto de vista de atrativos que despertam os
corações para o Divino Mestre. Recordemos alguns: a multiplicação dos pães, a
ressurreição do filho da viúva, a cura
do homem da mão paralítica, a cura do paralítico.
3. Plástica pedagógica
Todos somos chamados à
perfeição. Ora, só a perfeição da vontade está à nossa mão. Como a vontade é a
rainha das faculdades humanas, assim a formação do caráter é o mais alto ponto
ao qual pode chegar a formação. Sem uma boa vontade todas as outras belas
qualidades podem se tornar um perigo, como armas de fogo nas mãos de um louco.
A verdadeira formação não pára na instrução, mas se
propõe como objetivo a educação, que por sua vez deve alcançar a formação do
caráter. Eis o ideal para todos aqueles
que se ocupam seriamente na formação.
Ninguém pode censurar uma
pessoa por não ser bela, sã, forte, sábia, nobre, rica, porque estas coisas não
dependem dela. Mas, ela merecerá reprovação, se não for virtuosa. A virtude depende da nossa liberdade. O verdadeiro
valor do homem depende disto: porque o caráter é virtude. Se isto vale nas
escolas comuns, deve ser considerado especialmente na escola de Jesus, escola
orientada a tornar o homem bom, formando-lhe o caráter. E, de fato, é esta a
mais bela missão da escola de Jesus Mestre: ter formado no mundo, e em grande
escala, caracteres que ilustraram a história com o mais belo heroísmo.
Chiesa, recorda alguns mestres da história e o
caráter especial que formaram nos seus discípulos. Confúcio inspirou o amor à
família; Buda, a mortificação; Zarathustra, a luta contra o mal; Pitágoras, a sobriedade; Sócrates, a
reflexão; Platão, a elevação do
pensamento; Aristóteles, a consideração
cuidadosa da realidade positiva.
3.1
Homens de caráter formados na escola de Jesus
Jesus focalizou diretamente o centro da pessoa
humana, a vontade, para fazê-la objeto principal das suas curas. Já no seu
nascimento os anjos do céu desejaram a paz aos homens de boa vontade. E quais
foram as obras saídas das suas mãos? Foram os santos, os apóstolos, os discípulos, os mártires, foi a
Igreja. Paulo, “de perseguidor transformou-se em apóstolo, se torna um incêndio
de caridade e de zelo”. Pedro, tímido galileu, se torna um leão”. Assim, os
outros apóstolos, mártires e santos.
3.2 Como fez o Mestre Jesus?
Na sua missão de Mestre,
Jesus assume um estilo claro de plástica pedagógica.
Estimulou com o
ensinamento da verdade, o apontar a beleza, com o seu exemplo, as promessas
feitas a quem escutava suas palavras, e com a força dos milagres.
Ele deixa fazer. Jesus
respeita sempre a liberdade. Também são Pedro, que o renega, e na parábola do filho, o deixa fazer a própria
experiência.
Jesus guia, orienta. Aos
seus discípulos faz aquela recomendação: “guardai-vos do fermento dos
fariseus”. E àqueles que querem segui-lo: “toma a tua cruz e siga-me”.
Jesus corrige. Corrigiu Pedro, quando não queria que
Jesus fosse para a morte. Corrigiu Tiago e João, quando queriam atrair o fogo
sobre a cidade da Samaria, e corrigiu em tantas outras circunstâncias.
3.3
Meios de educação: a graça
Todos os meios acenados
seriam infinitamente distantes para entender a obra de Jesus na formação dos
discípulos, sem um outro meio que só Ele, porque Deus, podia ter nas mãos: a
graça.
E o que é graça? O cônego
Chiesa se faz esta pergunta e responde: a graça é uma realidade que não está em
nós, não é exigência da natureza, é infinitamente superior às nossas forças,
tanto que todos os homens unindo todas
as forças e trabalhando por toda a eternidade, não poderiam acrescentar um só grau. É um dom de
Deus, interno e sobrenatural, em ordem à vida eterna.
O Cônego Chiesa afirma que
seria função do formador acrescentar virtude à
forma, quando esta fosse insuficiente. Mas isto, só Deus pode fazer. E
isto fez e faz continuamente o Mestre Divino e é o segredo das maravilhas por
ele realizadas.
O Mestre Divino, com a
graça, reconstrói na pessoa o fundamento, ou seja, a força de fazer o bem na
ordem sobrenatural e assim merecer a vida eterna. A graça, como auxílio necessário
a cada instante, a pessoa pode pedi-la e
obtê-la a cada instante por meio da oração.
A graça santificante é
infusa em nós mediante aqueles ritos que Jesus quis instituir aos que chamamos
Sacramentos, instituídos segundo as várias circunstâncias da vida espiritual.
Como esta proposta do cônego
Chiesa foi introduzida na espiritualidade paulina? Padre Alberione viveu e
transmitiu esta proposta a todos e todas da Família Paulina. Um dos recursos
para tanto é o método Verdade, Caminho e Vida.
Para compreender melhor a
proposta do cônego Chiesa, na perspectiva do método Verdade, Caminho e Vida, é
importante a leitura da introdução ao livro
Donec Formetur Christus in vobis, no comentário de Padre Don Antonio
Dinâmica progressiva do método Verdade, Caminho e Vida
Na introdução do Donec
Formetur Christus in vobis, Padre Antonio da Silva, ssp, comenta o livro
Gesù Maestro, do Cônego Chiesa, dizendo que o trinômio iluminar- exemplo- santificar, é expressão de Jesus Verdade,
Caminho e Vida.
Padre Silva diz que Chiesa se compraz em usar as
palavras “terpética” e “plástica”
pedagógica, palavras raras, mas que exprimem eficazmente o seu ensinamento, os
dotes pedagógicos que pertencem a cada mestre: didática, arte de interessar e
plástica pedagógica.
Para ele, Francisco Chiesa
propõe a dinâmica verdade, caminho e vida com ótica alegre e progressiva Padre Silva comenta o interessante pensamento
de Chiesa que considera a natureza e a Sagrada Escritura como dois mestres
dados por Deus à humanidade.
“Como
se dissesse: dois são os mestres que Deus enviou aos homens: a natureza e a
Sagrada Escritura. Mas Deus, como insuperável pedagogo que é, quis observar a
devida ordem, procedendo do fácil para o difícil. E, portanto, o que fez? Ele
mandou por primeiro a natureza, para que na magnificência dos seus espetáculos,
fosse como mestre para as pessoas; e assim, as pessoas, educadas na escola da
natureza, mais facilmente pudessem aproveitar do magistério da Sagrada
Escritura. Enviou-te, são as suas palavras, primeiro a mestra natureza, para
enviar-te em seguida a profecia, para que tu mais facilmente cresses na
profecia, tendo sido já discípulo da natureza. Pois bem, nós, também diante da
mesma natureza, temos necessidade de um mestre que nos guie, e nos ajude a
interpretá-la corretamente. E isso especialmente no campo que mais que qualquer
outro nos interessa, isto é, no campo das verdades morais e religiosas” São
conceitos que Pe. Alberione frequentemente retomou nos seus escritos.[13]
Na segunda parte do livro, composta de 19 leituras, o Autor
desenvolve o trinômio verdade, caminho e vida, segundo a tríplice função de
Cristo: luz, exemplo e santificador.
O primeiro dote de Jesus Cristo é a ciência (Eu sou a
verdade, Jo 14,6). Padre Silva documenta melhor com os testemunhos de Mestra
Tecla Merlo e Mestra Teresa Raballo, em Donec Formetur.[14]
Nas suas anotações de
sexta-feira, 25 de novembro de 1927, Mestra Tecla Merlo escreve a indicação de
Pe. Alberione: “Jesus Cristo diz: Eu sou a Verdade (para compreender melhor
isso, ler o livro: Gesù Maestro)” (Quaderno n. 4, inédito, p. 102). Por sua
parte, Mestra Teresa Raballo anota: “Eu sou a Verdade, para considerá-lo quanto
merece, precisaria ler o livro impresso em Casa, intitulado: Gesù Maestro.
Argumento considerado em tal livro sob vários aspectos: filosófico, teológico,
ascético e pastoral” (A. T. Raballo, Quaderno 19, inédito, sexta-feira 25 de
novembro de 1927, p. 56).
Método Verdade, Caminho e Vida
Em Jesus Mestre, o cônego Chiesa fala do
método como ciência e caminho a se seguir. Diz ainda que este método no Mestre
Divino é ciência altíssima, plena de prudência, de praticidade.
Da dupla ciência da
verdade a ensinar e do discípulo a aprender
nasce a necessidade de uma outra ciência, não menos importante, a
ciência do método. Há estudiosos muito capazes, mas o são só para si. Quando devem comunicar aos outros a sua
ciência, mostram-se absolutamente incapazes, até abaixo da mediocridade. E por
quê? Porque não conhecem o método de ensino. Método é caminho a seguir: não
conhecer o método é não conhecer o caminho a seguir para fazer chegar o
conteúdo ao destino.
Método é o caminho para se
seguir: não conhecer o método é não conhecer o caminho para fazer chegar a
verdade à mente do discípulo. Ora, quem não conhece o método está em má
situação. Quem, ao invés, conhece o método se encontra na possibilidade de
fazer compreender rapidamente e com facilidade a verdade mais difícil. Ora, no Mestre Divino nós
encontramos o método de ensinamento, uma ciência igual às duas primeiras,
ciência altíssima, plena de prudência e
de praticidade. O pouco que nós possamos entrever é suficiente para
dar-nos uma ideia.
O método de ensinamento
elege o tempo, o lugar, o modo, as pessoas.
No livro Gesù Maestro, o cônego Chiesa apresenta os
dotes de Jesus: a ciência, o exemplo e a caridade, que correspondem a verdade -caminho-vida.
1.1
Verdade
“A
iluminação da mente não é a educação toda, mas é parte de grande valor. Como
Deus Criador, antes de mais nada, criou a luz: fiat lux, assim na alma do discípulo, é necessário, antes de tudo, que se faça
luz... E isso por meio do ensinamento da verdade. Ora, intelecto e verdade são
como o esposo e a esposa. Buscam-se um ao outro continuamente, porque pelo
Criador foram destinados a ser unidos em matrimônio perpétuo. Mas antes que
este desejado matrimônio se realize, antecede todo um romance de duras e
difíceis peripécias. Quanto trabalho antes que o homem possa unir o seu
intelecto à ciência legal e se tornar doutor em leis! À ciência dos números, e
ser proclamado professor de matemática! [...] Ainda que se trate somente da
união da mente com uma só verdade, por exemplo, de entender o modo de somar
dois números. Verifica-se sempre a mesma coisa: o matrimônio da mente com a
verdade. A didática destina-se a diminuir as dificuldades dessa união e a
acelerar o tempo”.
1.2
Caminho
O caminho são os dotes
pedagógicos necessários ao mestre. A isto o cônego Chiesa denomina como
terpética ou a arte de agradar, ut
delectet, como diz santo Agostinho
“Que
tal arte seja, no mestre, de suma importância, é fácil de compreender, quer a
escola seja orientada à instrução da mente, quer queira procurar também, como é
dever, a educação da vontade. Num caso como no outro é sempre de suma
importância saber criar interesse. Se se trata de educação, a coisa é evidente.
É necessário então estimular a vontade à virtude que é, por si mesma, dura e
difícil, e é necessário saber despertar a estima e admiração para com ela. O
objetivo verdadeiro da arte seria justamente este. Existe um abismo entre
conhecer a verdade e praticá-la. A arte lança uma ponte sobre este abismo para
que a vontade possa facilmente atravessá-lo. É por isso que os livros
eficazmente educativos não são os que contêm preceitos, mas os que são escritos
com arte. [...] Ainda que se tratasse somente de pura instrução, também então
seria necessário saber deliciar e interessar a vontade. Tudo depende da vontade:
a frequência à escola, a diligência de aplicação, a atenção, a reflexão, a
iniciativa, a constância em superar os obstáculos. Dai-me um aluno de boa
vontade e sereis seguros de bom êxito. Por isso, nos livros de pedagogia se
fala tanto dos interesses do aluno nas diversas idades; e, especialmente nas
escolas modernas, utilizam-se tantos meios para tornar a escola simpática e
agradável. Procura-se interessar e deliciar, para poder mais facilmente educar.
Eis a terpética (τέρπω – delícia) arte de deliciar ou interessar. Uma arte
assim natural e necessária, não podia ser posta de lado pelo Mestre Divino.
Antes, Ele, que mais que todos os pedagogos conhece profundamente a natureza
humana, usou esta arte de modo divino e insuperável. E isso na maneira de instruir,
na substância da doutrina, e no modo de confirmá-la” .
1.3
Vida
Padre Silva chama a
atenção à consideração muito importante sobre a formação do caráter:
“A
verdadeira escola não se limita à instrução, mas propõe como objetivo a
educação, que por sua vez deve atender à formação do caráter. Eis o ideal
acariciado por todos os que se ocupam seriamente em procurar o bem da
humanidade.
Como
a vontade é a rainha das faculdades humanas, assim a formação do caráter é o
mais alto vértice que a educação pode alcançar. O verdadeiro valor do homem
depende disso, porque caráter é virtude. Sem a boa vontade todas as outras
belas qualidades podem tornar-se um perigo, como armas de fogo nas mãos de um
perverso ou de um louco. Todos somos chamados à perfeição. Haec est voluntas Dei, sanctificatio vestra (1Ts. IV, 3). Ora, a
perfeição da vontade está nas nossas mãos. Ninguém poderá repreender um homem
porque não é bonito, sadio, robusto, douto, nobre, rico, porque estas coisas
não dependem dele. Mas ele merecerá reprovação, se não for de caráter. A
virtude depende da nossa liberdade”.
2. Meios de educação
Os apóstolos Paulo e
Pedro, os mártires e os santos são modelos de pessoas formadas pelo Mestre
Jesus. Quanto aos meios adotados na formação, junto aos meios sobrenaturais
Jesus não descuidou dos meios naturais, mas é na explicação da que chama
plástica pedagógica que Chiesa escreve uma belíssima página, plenamente
partilhada por Padre Alberione:
“A
plástica pedagógica não é como a plástica industrial, que faz tudo por si
mesma, e imprime mecanicamente a sua forma à matéria, como quando se fazem à
máquina os tijolos e as telhas, ou se fundem as estátuas de metal.
A
arte plástica pedagógica tem a ver com seres vivos e livres e os trata
respeitando a sua natureza. Um ser vivo, ainda mais se inteligente e livre, age
por um princípio intrínseco e imanente, e em ordem a um objetivo livremente
entendido e perseguido. Plasmar tal ser quer dizer formá-lo na sua perfeição,
mas tendo em consideração todos esses elementos; mais ainda, apoiando-se sobre
eles. Este ser vivo e dotado de razão possui um princípio intrínseco que, como
diz S. Tomás, se manifesta em dois elementos: na forma, que está dentro dele e
no fim que está fora. É necessário que o mestre, ou plasmador, procure tornar
sempre mais viva e ativa essa forma, reavivando a sua atividade se a forma é em
si suficiente, e acrescentando potencialidades, se a forma é insuficiente.
Quanto ao fim, deve fazê-lo conhecer com total clareza e certeza, circundando-o
dos elementos que podem aumentar a sua atração. Esse mesmo ser livre tem também
necessidade de operar livremente em ordem ao fim? Será necessário ajudá-lo a
abater os obstáculos à liberdade, aumentar e estimular sempre mais a força da
vontade, para que, com coragem e empenho, corra em direção ao seu fim. Só
então, isto é, quando o ser inteligente e livre tiver adquirido plena
consciência de si mesmo, e tiver conseguido ser independente de todos os
obstáculos de qualquer tipo que seja, terá adquirido o hábito de alcançar o seu
fim com energia, constância e eficácia; somente então esse ser terá adquirido o
seu caráter moral. Ora, tudo isso fez precisamente o Divino Mestre com os seus
discípulos.”
Por último, Francisco Chiesa fala da graça, como o meio
de educação mais importante usado por
Jesus, e sublinha a importância da oração e dos sacramentos.
3. Relação do método Verdade, Caminho, Vida
com o método inaciano
Na primeira meditação
feita aos seminaristas, como diretor espiritual no Seminário de Alba, em 1908,
Padre Alberione afirma: “Faremos os exercícios prolongados – via purgativa
(odiar o pecado) – via iluminativa ( virtudes de Jesus Cristo) – via unitiva
(os prêmios)”. No dia sucessivo ele concluiu apresentando a dinâmica das quatro
semanas dos Exercícios.
Em 1927, foi impressa na
“Casa” uma obra destinada a ser uma espécie de assíduo “vademecum” para os
jovens paulinos: Curso de exercícios espirituais por oito dias segundo o método
de Santo Inácio, compilado para uso especial dos Religiosos e Sacerdotes, do
Padre Luigi Pincelli, SJ, em dois volumes.
A experiência dos exercícios
inacianos era bem acentuada por Pe. Alberione. Diversas vezes ele quis vivê-la,
e durante um mês inteiro.
Muitos santos viveram a espiritualidade
dos Exercícios Espirituais (EE) inacianos: bispos, como S. Carlos Borromeu e S.
Francisco de Sales; apóstolos como S. Vicente de Paula, o franciscano S. Leonardo de Porto Mauricio, S. João Bosco,
S. José Cafasso, S. Teresa d'Avila e S.
Teresinha, o Bem-aventurado Tiago Alberione e outros. Isto indica que os últimos quatro séculos da
Igreja foram profundamente marcados pelo pequeno livro de Inácio escrito na
gruta de Manresa depois de uma noite inteira de
vigília em oração à Mãe de Jesus.
Antes de tudo, os
Exercícios Espirituais não são um tempo de estudo o uma simples concentração e
oração. São busca.
Como o passear, o
caminhar, o correr são exercícios físicos, assim se chamam Exercícios
Espirituais todo modo de preparar e dispor a alma em tirar todos os afetos
desordenados e, após tê-los tirados, procurar e achar a vontade de Deus na
disposição de própria vida, para a própria salvação.
A finalidade é clara:
esforçar-se por ordenar a vida segundo o
projeto de Deus. Como? S. Inácio
recomenda, antes de mais nada, fazer os Exercícios Espirituais num lugar
diferente do próprio ambiente costumeiro.
O método inaciano
Alberione, em Donec
formetur, apresenta um esquema bem parecido com o de Inácio[15].
Começa com uma consideração fundamental (S. Inácio chama de "Princípio e
fundamento"): para que finalidade Deus nos criou? A razão, iluminada pela
fé, dá a resposta: o homem foi criado por Deus e para Deus. Todo bem foi
colocado a disposição do homem para que o auxilie a conseguir esta finalidade.
Por isso, precisa o homem fazer disso um uso razoável. Precisamos assim
adquirir liberdade de espírito e um perfeito controle de nossos instintos, por
meio daquela que Inácio chama de "indiferença", que não é apatia, mas
autocontrole e equilíbrio espiritual.
Feito isso, Inácio passa aos Exercícios verdadeiros,
que se desenvolve em quatro semanas, entendidos como tema a tratar e não
segundo o número dos dias.
São assim 4 etapas, que
podemos lembrar com quatro tradicionais palavras latinas, que expressam-lhes a
finalidade.
Primeira etapa (primeira
semana)
"Deformata
reformare", eliminar
do coração as deformações causadas pelo pecado. E’ um modo de nos conhecer a
nós mesmos e a grave desordem criada pelo pecado em nossa vida, além do perigo
ao que fomos expostos! Para não cair na desconfiança, Inácio nos faz contemplar
a imagem do Salvador Crucificado, morto para nos salvar da morte eterna.
São Paulo fez experiência
do pecado e contou assim a sua luta interior:
"Sabemos, de fato, que a lei é espiritual, mas eu sou carnal,
vendido ao pecado. Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que
quero; faço o que aborreço. E, se faço o
que não quero, reconheço que a lei é boa. Mas, então, não sou eu que o faço,
mas o pecado que em mim habita.” (Rm
7,14-17).
Inácio nos conduz então a
examinar a nossa vida e através de uma purificação do mal nos faz chegar a uma
nova etapa que é necessária para que o mal não tenha a última palavra na nossa
vida.
Segunda
etapa (segunda semana)
"Reformata conformare". Somos convidados a nos revestir do
Cristo e de sua armadura. A pessoa "reformada" deve "se
conformar" ao Cristo: pobre como ele; ardente de amor para o Pai e os
irmãos. É o tempo da "reforma" ou da opção do estado de vida: como,
na prática, seguir Cristo?
Os verbos chaves de Inácio
são conhecer, amar e seguir. Conhecer intimamente de que forma o Filho de Deus
se fez homem por mim, a fim de que o ame com mais ardor e depois o siga com
mais fidelidade” (EE 104). É central em Inácio este acento. Conhecer
intimamente aquele que se fez homem por mim. Amá-lo com ardor e com todo o meu
ser. Segui-lo, porque se Ele deu-se todo, consumando-se sobre a cruz, também eu
devo gastar a minha vida por Ele.
É nesta semana que se faz
uma discernimento sobre estado de vida e sobre “eleição”: onde Deus me quer?
Qual a sua vontade e que quer que eu faça po Ele? É um itinerário lógico para Inácio: como não
seguir a um Rei que deu tudo por mim e que me chama ao seu serviço? Jesus
Cristo é o Princípio e o Fundamento da existência. Tudo nele, graças a Ele e
por Ele.
Terceira etapa (terceira semana)
"Conformata
confirmare". Isto é, fortalecer os propósitos de adesão a Cristo, por
meio da contemplação daquele que foi obediente até a morte na cruz. O grito do
Filho: "Pai, se for possível, afasta de mim este cálice", precisa
continuamente nos relembrar a segunda parte desta súplica: "Mas não a
minha, e sim a tua vontade seja feita". Nesta etapa nos confirmamos nas
decisões tomadas.
Padre Pietro Schiavone,
sj, assim descreve o itinerário
inaciano: "A primeira semana corresponde à assim dita via purificativa, a
segunda à via iluminativa, a terceira e a quarta, a via unitiva. Não basta
seguir Jesus, não basta assimilar a doutrina; è necessário deixar-se
“conquistar” (Fl 3,12) por Ele, deixar-se cativar pelo Espírito (At 20,22),
para consentir o processo de identificacão
que leva a viver totalmente “por Deus, em Cristo Jesus”.(Rm 6,11). È
o Reino que deve ser evidenciado e
vivido até fim: “Quem quer vir comigo, deve trabalhar comigo para que,
seguindo-me no sofrimento, me siga também na glória”. (EE 95)"
A contemplação da cruz é
contemplação do amor de Deus que mostra o seu verdadeiro rosto de Pai
sacrificando o Filho Unigênito: “Deus de fato tanto amou o mundo que deu o seu
Filho unigênito, para que todo que nele crê não morra, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3,16).
Quarta etapa ( quarta
semana)
"Confirmata transformare". "Eu não morro: entro na
vida", escreveu S. Teresa de Lisieux antes de morrer. E, de fato, a Igreja
canta: "Vita mutatir, non tollitur", isto é, "a vida não é
tirada com a morte, e sim, transformada". A morte de Jesus na cruz
coincidiu com o começo do cristianismo. "Quem perde sua vida por causa de
mim, a encontrará", diz Jesus no Evangelho. E a vida do Ressuscitado é a
esperança de quem faz os Exercícios nesta etapa final. A quarta semana é a
união com o Cristo glorioso. A terceira e a quarta são indissoluvelmente
unidas. Não pode existir uma sem a outra. A contemplação da Ressurreição é o
ponto de chegada do itinerário inaciano. De fato, Santo Inácio nos sugere pedir
a graça de “alegrar-nos e experimentar intensamente a grande glória e alegria
de Cristo nosso Senhor”. (EE 221).
A última contemplação,
sugerida pelos Exercícios Espirituais é o amor de Deus. No fim dos Exercícios, S. Inácio propõe uma maravilhosa contemplação
para alcançar o Amor puro de Deus (chamada "contemplatio ad amorem").
Com o pensamento se volta à Criação e à Redenção, para descobrir como e quanto
Deus nos ama! E resta um único desejo que se expressa na oração: "Ó Senhor, dá-me teu amor e tua graça:
isto me basta!”
Exercícios Espirituais e
método Verdade, Caminho, Vida
Há pontos de convergência
entre o método inaciano e o método alberioniano?
Segundo o jesuita Pietro
Schiavone, são comuns o método, o discernimento, o conteúdo. Vejamos cada um.
O método
O
método consiste no encontro com o Senhor, em apreciar as verdades,
aquilo que o Senhor disse, firmar-se sobre cada ponto e oração, fazer um exame
sobre aquilo que pode estar prejudicado pelo egoísmo e um relacionamento íntimo
com o Senhor. Padre Alberione fala do método como esqueleto dos Exercícios
Espirituais.
Estabelecer-se totalmente
em Jesus Mestre Verdade (mente), Caminho (vontade) e Vida (sentimento); até
chegar à suprema altura da nossa personalidade: eu que penso em Jesus Cristo,
eu que amo em Jesus Cristo, eu que quero em Jesus Cristo; é o Cristo que pensa
em mim, que ama em mim, que quer em mim. A ossatura dos Exercícios e do seu
fruto é apresentada por Santo Agostinho com estas palavras: “O homem é um
viajante; o ponto de partida é o pecado; o término é Deus; o caminho que a ele
conduz é Jesus Cristo”. Ora, o homem é inteligência, vontade e sentimento. Para
pensar em Cristo é necessário meditar as verdades por Ele pregadas; para querer
em Cristo é necessário contemplar a sua vida da Encarnação à glorificação; para
amar em Cristo devemos fazer nosso o seu coração; eliminando qualquer outro
amor e estabelecendo em nós o duplo amor de Jesus Cristo ao Pai e às pessoas.
O discernimento
O discernimento constitui
um elemento essencial dos exercícios inacianos. Segundo Inácio, o discernimento
se atualiza pela reflexão, pela escolha, pela execução, num contexto de oração
e com a Palavra. Se não há discernimento não se pode falar de exercícios
inacianos. Pe. Alberione se propõe a chegar a isto, a compreender a vontade de
Deus através do discernimento. Eram muito frequentes os dias nos quais – para
usar a sua expressão - “não trabalhava”, quer dizer, os dias nos quais não
tomava mais que uma xícara de café depois da Missa que celebrava bem cedo
(antes da quatro) e, mais ou menos na hora em que a comunidade chegava à igreja, ele se fechava no quarto por um dia
todo e não falava com ninguém, por mais que se batesse com insistência à sua
porta. E estes dias, que não eram mais do que dois ou três consecutivos, às
vezes, chegavam até sete.
E Pe Alberione confirma isto quando escreve em
Abundantes Divitiae Gratiae suae:
“Acontecia
frequentemente que ocorresse uma
maturação serena, calma. O Senhor dispunha um breve período de leito; depois de
estar fechado no quarto, saia revigorado, com a vista clara e lançava mão às
iniciativas”.
O conteúdo
Quanto ao conteúdo, os
exercícios inacianos são sempre o Evangelho. Padre Pedro Schiavone, sj, em
entrevista, na Chiesa de Gesù, em Roma, falou da diferença de conteúdo da
espiritualidade inaciana e alberioniana:
“No
meu modo de ver, a diferença substancial dos métodos do Padre Alberione e do
método de Santo Inácio é esta: Santo Inácio aponta para Cristo. Aponta e basta!
Vocês têm o seu método, têm os seus meios, têm uma finalidade. Sem dúvida,
admiro profundamente este aspecto da vida de Cristo: Verdade, Caminho e Vida.
Quem não pode ser devoto de Jesus que disse: “Eu sou Caminho, a Verdade e a Vida”? Todos devem
sê-lo. Vocês, de maneira particular, por motivo de ordem carismática.”
Padre Schiavone, no Seminário Internacional sobre
Espiritualidade da Família Paulina, em Ariccia, de 16 a 27 de setembro de 1984,
afirmou:
Podemos
dizer que, verdadeiramente Padre Alberione atualiza Inácio, o aplica às
exigências de sua Congregação e vê tudo sob a “cor paulina”. Padre Alberione,
na verdade, soube aplicar de maneira inteligente e adequada o método inaciano
ao espírito paulino”. Ele se reservou a indicação de “dar sempre a cor
paulina.
Alberione
fala da “cor paulina” como “parte
substancial”. Esta é a parte substancial: a Família Paulina tem uma só
espiritualidade: viver no Divino Mestre
como Ele é: Verdade, Caminho e Vida; vivê-lo como o compreendeu o seu discípulo
São Paulo.
Atualidade do método Verdade, Caminho
e Vida
Temos agora em mãos dois
argumentos sobre os quais trabalhar. A necessidade das pessoas que procuram
métodos de oração para viver a mensagem do Evangelho e o método Verdade,
Caminho e Vida com a recomendação de Padre Alberione: “Fazer entrar por toda parte Jesus Cristo Verdade, Caminho e Vida”
.
No boletim “San Paolo” , dezembro de 1957,
Padre Alberione dizia: «Tudo está aqui:
viver Jesus Cristo, Verdade, Caminho e Vida. Fazer a verdade da caridade de
Cristo àquelas populações estão carentes e famintas, dando-lhes de fato o
Cristo total Verdade, Caminho e Vida”.
Para o Padre Alberione, o
método Verdade, Caminho e Vida não era só para a espiritualidade, mas ainda
devia ser vivido no estudo, na comunidade e no apostolado.
Não é um bonita expressão,
não é um conselho: é a substância da Congregação; é um ser ou não ser paulinos.
Não se podem fazer digressões! O estudo deve ser uniformado à devoção da Jesus
Mestre, Caminho, Verdade e Vida; a disciplina religiosa deve uniformar-se a
Jesus Mestre Verdade, Caminho e Vida; o apostolado deve dar isto. Quando não dá
isto é só fonte de distração e não é bendito; quando se dá isto está sobre o
caminho, o caminho de Deus, e então há bênçãos sobre bênção.
Para “fazer entrar por
toda parte”, antes se deve compreender e viver bem este método na Família
Paulina. Depois, “dar” ou partilhá-lo com as outras pessoas.
Necessidade
das pessoas ou discípulos: integração
No mundo de hoje, onde as
pessoas sofrem a desintegração e a dificuldade das relações, o método Verdade,
Caminho e Vida vem favorecer atitudes de integração nas relações consigo
mesmas, com Deus, com o mundo e as
outras pessoas.
Ao conhecer e viver Jesus
Cristo, no testemunho e na pregação de São Paulo, a pessoa vive o mesmo
processo de conversão, adesão plena a Jesus Cristo Mestre, verdade Caminho e
Vida, apóstolo e missionário. Este processo, Padre Alberione propõe através de
três meios.
Sugestões para “fazer entrar
em toda parte”
“Preparar-se”
A primeira coisa a fazer, como sentiu Padre Alberione
diante de Jesus Eucarístico, no início do século vinte, é “preparar-se”. Estar
em condições de pregar o Evangelho de Jesus Divino Mestre. “Façamo-nos pena e boca de Deus por Jesus
Cristo nosso único Mestre”, dizia Alberione.
Viver em
Jesus Mestre Verdade, Caminho e Vida
Em diversos momentos
Alberione insiste no “viver”. É o que
denomina “quatro fins”: “mais comum é aquele dos quatro fins” de todos conhecido. O método dos quatro fins
geralmente vinha aplicado para viver mais intensamente seja a celebração
eucarística, a visita ao Santíssimo Sacramento, a meditação. É constituido de:
ler, meditar, motivar-nos para santos afetos e boas resoluções.
Divulgar ou
“comunicar” Jesus Mestre Verdade, Caminho e Vida
“Comunicar” Jesus Cristo
Mestre Verdade, Caminho e Vida e a sua Proposta do Reino, no espírito do
Apóstolo Paulo, com todas a formas.
Alberione deixa ao carisma paulino uma
abertura para todos nos novos meios. Aqui se compreende uma expressão muito
importante da inculturação, também presente na pregação de Paulo.
Usando uma imagem:
para se comunicar conosco Jesus Cristo fez como acontece para ouvir uma
emissora de rádio, se colocou na nossa sintonia. De fato, se não se está na
mesma sinonia não se ouve nada, há só um grande barulho ou ruído. Se a outra
pessoa é realmente importante para mim, tudo desta pessoa se torna importante,
ainda as coisas que talvez não me interessem.
Esta sintonia, são Paulo apresenta
no Hino Cristológico, o itinerário perfeito, vivido por Jesus Cristo para
chegar à glória de Deus Pai:
“Cristo tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com
Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e
tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples
homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte
de cruz! Por isso, Deus o exaltou
grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo
joelho no céu, na terra e sob a terra; e
toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.” (Fl 2,6-11).
Orientações para viver os Exercícios Espirituais na
Vida Quotidiana, Linhas Gerais do CEV e Roteiro para viver o método Verdade,
Caminho e Vida[16] encontram-se no blog: http://viverecomunicarcristo.blogspot.com.br/
Projeto CEV ( Cristo em vós)
“Viver
e comunicar Jesus”
1. Objetivo: propor e desenvolver o Roteiro
Cristo em vós nas diversas comunidades.
2. Conceito: Para que Cristo esteja em vós,
ou seja, em todos e em toda a pessoa é preciso
passar por um processo de
formação, Na sua etimologia a palavra
forma e derivadas, significam:
2.1 Forma é modo de exprimir-se, conformação
significa modo de ser, de viver, de
comportar-se. Tomar forma significa assumir determinado aspecto.
2.2 Formar é plasmar, modelar, fazer assumir a
forma desejada, fazer segundo um certo modelo, organizar na devida forma,
criar, crescer, desenvolver.
2.3 Formação não é só instrução, conforme Can.
Chiesa, é aquisição de uma determinada forma, constituição, maturação das
faculdades da pessoa: mente, vontade e coração.
3. Os sujeitos envolvidos
no Projeto CEV
Família Paulina e demais pessoas nas paróquias e comunidades,
em sintonia com o Projeto de Evangelização da América Latina: Missão
Continental.
4. Como desenvolver o Projeto CEV
Utilizar a estratégia comunicativa
de Jesus:
Em círculos, cujo núcleo é
Jesus Cristo, portanto, círculos cristocêntricos. Depois do anúncio de sua
missão de enviado do Pai, na Sinagoga de Nazaré (Lc 4, 16-21) Jesus vai
ampliando o círculo dos chamados a cumprir com Ele a missão do Pai. Assim,
chama dois, Simão e André (Mc 1,16-18). Chama os filhos de Zebedeu (Mc
1,19-20). Ampliando mais o círculo, chama os Doze ( Mt 10, 1-4). Ampliando,
Jesus escolheu os 72 discípulos (Lc 10,1-12).
A missão cresce e não tem confins: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a
Boa nova a todos”(Mc 16,15). Assim, ao
estilo de Jesus, desenvolve-se o Projeto Forma CEV:
Os Exercícios Espirituais
CEV ou Verdade, Caminho e Vida são vividos individualmente. Um grupo de dez ou
doze pessoas pode realizar encontros semanais, de cerca de uma hora,
partilhando a experiência pessoal vivida e, sob a orientação de um/a
acompanhante, prepara a semana seguinte. Cada pessoa dos Exercícios CEV
desenvolve outro grupo, fazendo a mesma experiência . Assim, o círculo se
amplia.
Periodicamente podem-se
fazer encontros maiores de revisão e oração.
______________________________
BIBLIOGRAFIA
1. AA.VV., L’Eredità Cristocentrica di Don Giacomo
Alberione, Milano, 1989.
2. ARNOLD Wilhelm, Dizionario di Psicologia, Paoline,
Roma, 1975.
3. CHIESA Francesco, Gesù Maestro, Pia Società San
Paolo, Alba-Roma, 1926.
4. BIBBIA versione CEI 1974
5. ESPOSITO Rosario F.,
La dimensione cosmica della
preghiera – La “Via Humanitatis” di Don Giacomo Alberione, Paoline, Roma, 1981
6. GANDOLFO Guido, La proposta spirituale-apostolica di
Don Giacomo Alberione, SSP, Roma 2003.
7. KRIEG Cornelio, Enciclopedia scientifica e
metodologia delle scienze teologiche, Libreria Editrice Cav. E. Coletti, Roma,
1913.
8. LOYOLA Ignazio, Esercizi Spirituali, Edizioni ADP,
Roma.
9. LOYOLA
Ignazio, Esercizi Spirituali, a cura di Pietro Schiavone sj., ed. S.
Paolo, Cinisello Balsamo 1996, 10° ed..
10. MERTON Thomas, Pensieri nella solitudine,
Garzanti, Milano, 1959.
11. ROATTA Giovanni, Gesù Maestro, Paoline, Alba, 1955.
12. ROLFO Luigi, Don Alberione, Paoline, Alba, 1974.
13. SAN PAOLO, no. 2, febbraio, 1963.
14. SGARBOSSA Eliseu, articolo Un buon Anania,
Cooperatore Paolino, febbraio 2008, Spagna.
[2] Abundantes Divitiae
Gratiae suae (AD),159-160.
[3] AA.VV. Eredità
cristocentrica di Don Alberione, p. 188.
[4] Ut Perfectus Sit
Homo Dei, Istruzione XII.
[5] AD 149.
[6] DF 36.
[8]
Venerável sac. Francisco Chiesa, Pároco, Escritor, Mestre em Teologia.
Francisco Chiesa nasceu em
Montà d'Alba (Cuneo, Piemonte) no dia 2 de abril de 1874. Terminados os estudos
no seminário de Alba, foi ordenado sacerdote.
A seguir laureou-se em
filosofia em Roma, em teologia em Gênova, em direito em Torino.
Por mais de 50 anos ensinou,
sobretudo no Seminário e na Sociedade São Paulo, comunicando aos jovens
clérigos e sacerdotes, juntamente com a ciência, o espírito sacerdotal.
Dedicou-se ao mesmo tempo à
atividade redacional e escreveu numerosos livros e artigos para revistas. Eleito
pároco da paróquia dos Santos Cosme e Damião em 1913, permaneceu à frente da
mesma com sabedoria e amor por 33 anos, até 1946.
Diretor espiritual e
conselheiro de pe. Tiago Alberione, sustentou a Família Paulina desde o seu
nascimento e a acompanhou no seu desenvolvimento.
Morreu em Alba, no dia 14 de
junho de 1946. Foi proclamado venerável no dia 11 de dezembro de 1987. No âmbito da Família
Paulina, o venerável Francisco Chiesa é considerado o precursor e o primeiro
membro do Instituto Jesus Sacerdote fundado pelo Padre Alberione quando o
cônego estava já no céu, segundo Padre Eliseo Sgarbossa, ssp.
[9]
Trabalhos sobre o método Caminho, Verdade e Vida até 2007: Il
processo di cristificazione nel Donec Formetur di Don G. Alberione (SZYMANSKA
Sr. Ursula - Polonia) – 1998; Proposta per un itinerario di spiritualità Pastorale (MORETTO Sr. Maria -Italia) – 1998;
Processo interior del itinerario spiritual paolino (PINEDA Sr. Silvia Margarita - Messico) –
1999; La espiritualitad paulina uma espiritualidad actual, Donec formetur
Christus in vobis (ORDONEZ LEON Sr Stella- Colombia) – 1999; Itinerario
Spirituale-vocazionale-formativo in Don Alberione ( SANDOVAL Sr. M.
Paolina-Messico) - 2000; VIA, VERITA’ E
VITA, cammino di discepolato, ( FURLANETTO. Sr. Marilez - Brasile) – 2001;
Metodo Via Verità e Vita, nella predicazione di don Alberione alle Pie
Discepole del Divin Maestro. (LEE Sr. M.
Gianpaola - Corea) – 2002; e Esercicios espirituales
para jovenes, en clave comunicacional –( HERRERA Sr. Rosalba fsp) – 2004.
[11] Ibidem, pp. 186-187.
[15]
Donec formetur Christus in vobis, pág.155-167.
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